2º Capítulo

Levantei da cama e comecei a arrumar minhas coisas rapidamente. Como minhas roupas foram parar pelo quarto inteiro? Eu sabia que aquelas taças de Limoncello iriam me trazer problemas. O Brad acordou, mas tudo que fez foi ficar me observando. Eu de um lado pro outro.

De alguma forma ele achava engraçada a minha afobação.

-Cara, você faz idéia de que eu tinha um seminário pra apresentar hoje? Como nós chegamos aqui? E essa dor de cabeça...

Minha cabeça explodia enquanto eu pegava as minhas chaves.

-...Sabe, as coisas não deviam ser tão fáceis assim, Brad. Eu não tenho mais dezesseis anos. Eu devia ter a cabeça no lugar. – E eu devia mesmo! - Você tem uma aspirina aí? Eu devo ter em algum lugar da minha bolsa...

Então ele pronunciou a primeira frase do dia:

- Você devia apenas relaxar, Anna.

Eu olhei pra ele, e ele estava me olhando com aquele olhar meio chateado, meio apaixonado que só ele sabe fazer.

– Volta pra cá. Eu queria que essa noite durasse pra sempre, e você simplesmente está indo embora cedo demais.

Minhas pernas ficaram bambas e por um segundo eu pensei em jogar tudo pelo quarto denovo e ficar ali com ele, o máximo de tempo possível. Mas, talvez se eu não fosse tão complicada... Ele nem sabia a influência que seus olhos tinham sobre mim. Mas não dessa vez! Dei um sorriso, disse que precisava mesmo ir e saí. Na sala, a situação não estava muito diferente. Candice estava dormindo no sofá com o Mauro, e tinha mais alguém semi-nu espalhado pelo chão que minha pressa não me permitiu identificar. Não poderia ficar mais nenhum minuto ali, ou então seria toda a merda denovo. Amar, amar, amar, sofrer, sofrer, sofrer.

Entrei no carro, e mais uma vez conferi o vinil do RadioHead ali, no embrulho. Eu parecia uma criança com seu presente de natal! Mas esse Brad sabia mesmo ser formidável quando queria. Filho da puta. Voltei pra casa ouvindo Fake Plastic Trees no CD com um nó na garganta. Talvez ele tenha mudado durante esses três meses. Talvez não. A estrada que me distanciava cada vez mais dele, me pareceu melancólica. Tudo ficou triste e eu chorei. Talvez eu devesse ouvir outra canção, qualquer pop hit mais animado. Mas eu não queria ouvir nenhum pop hit mais animado. Eu queria ouvir Fake Plastic Trees, e colocar pra fora tudo que estava contido todo esse tempo. Tudo que eu, de forma muito inteligente, bloqueei durante esse tempo, mas que agora queimava em meu estômago e atravessava meu peito.

♪“It wears me out, it wears me out

It wears me out, it wears me out” ♪

Cheguei em casa, direto pro banho. Não tinha seminário nenhum, na verdade. “Muito bonito Dona Anna. No primeiro dia que seu ex volta de viagem, você já vai pra cama com ele e agora não consegue pensar em nada que não tenha uma relação com isso” Eu me dava sermões. Mas não adiantavam, porque quanto mais eu tentava me convencer que foi estupidez, mais eu queria voltar pra lá. E se eu voltasse pra almoçar com eles? Não é má idéia, eu prometi que ajudaria a Candice com as coisas.

Eu só poderia estar delirando, tomei um café forte e fui deitar.

Antes do almoço eu estava de volta. No bolso, minha pulseira de estimação. Caso alguém perguntasse por que eu voltei, esse seria um bom motivo. Pulseiras esquecidas, orgulhos também. Todos estavam animados. O clima era agradável, e logo me senti confortável novamente. Como eu amava essa gente! Amigos geniais, sem dúvida. Fui procurar por Brad que certamente ainda deveria estar na cama. Quando cheguei no quarto, Candy (a garota das fotos) estava deitada com ele. Aparentemente estavam vestidos, mas quando eu abri a porta os dois olharam imediatamente pra mim. Eu já tinha visto esse filme antes, e Brad sabia direitinho disso.