11° Capítulo

Saimos da balada loucos.O carro de polícia se encontrava parado com suas luzes vermelhas e azuis piscando, convidando os "boys" drogados a darem um passeio entre as ruas para tentar arrajar algum trocado. Passamos, os três, entre os polícias e entramos no carro dissimuladamente com cara de sobrios. Flávia segurando o riso, Gabriel com semblante preocupado e eu com a maior cara de paisagem refletindo sobre o que Flávia havia me dito. Gabriel passou a mão no porta-luvas a procura de um CD, pegando o primeiro, colou e começou a desenrolar Back To Black, ele pulou a primeira música e deixou rolar You Know I'm No Good, justamente a música que se encaixava com o meu romance com Brad. Não contive as lágrimas e Flávia veio junto a mim. Entre tantos pensamentos confusos sob o efeito da cocaína só um se destacava: minha paixão repentina pela Flávia. Eu realmente não sabia muito bem onde estava me metendo, nunca fui a favor de drogas e sabia bem o que esse caminho levava as pessoas a fazerem, havia visto amigos caindo feio por conta disso, mas só de curtir a sensação de "liberdade" e de estar junto dela, isso me completava,em partes. Flávia me abraçava como se eu fosse parte de seu corpo e eu sentia que minhas lágrimas feriam ela mais que a mim. Não pude de deixar de pensar em abandona-lá, de seguir minha vida sem ela e sem Brad, mas algo realmente havia mudado em meu interior e sentia que a minha vida estava ligada a dela por todo o sempre e isso cabia também a vida de Brad. 

- Porra- disse Gabriel de repente- Velha filha-de-uma-puta, cortou nosso barato!

- Nem esquenta Gabis, vamos pra casa aproveitar o resto da night - disse Flávia com o sorriso mais sacana e meigo do mundo

- Meu, se os "caras" me pegam, tô fudido, cê sabe, não sou mais réu primário - falou Gabriel com um tom de voz sombrio - e tem o lance do meu pai ser juíz e tals, ia ser uma merda pra reputação dele me ver de novo na cadeia por drogas...

- Você já foi preso Gabriel?- perguntei atônita, não imaginava isso.

- Infelizmente sim, quando eu tinha 17 anos fui pego fumando baseado e com algumas gramas de coca! Sorte minha que meu pai me ajudou e minha pena foi reduzida a pagar cestas básicas e ajuda comunitária....

- Ah meu, vamos esquecer isso, quero aproveitar o resto da minha brisa e beijar muito minha garota...

- Falando em aproveitar, me passa a última dose que tem ai na sua jaqueta Flá, quero ficar ligado.

- Meu espera até chegar na casa da Flávia, é perigoso, você ta dirigindo - disse.

- Relaxa Anninha, não é a primeira vez que faço isso.

Flávia começou a preparar a carrerinha e o cd da Amy Winehouse já se encontrava na faixa Some Unholy War.

"Para quem você está lutando?" ♪

Eu também vivia minha guerra pagã e até o momento em que Flávia não havia surgido em minha vida eu tinha só a percepção de derrota. Flávia havia feito três linhas, cheirou uma, ofereceu a segunda a mim, recusei e acendi um cigarro, Gabriel deu um sorriso, deslocou uma das mão do volante e pegou as duas que sobraram, cheirou como um preso que cheira o ar da liberdade após sair da prisão, levantou a cabeça, dei um trago no meu Marlboro, olhei pro lado, vi Flávia me olhando fixamente através do reflexo da janela do carro, dei um sorriso, olhei pra frente e nesse instante o que pude ver foi Gabriel perder o controle do carro e entrar na contra-mão. Bem na nossa frente vinha um enorme caminhão, vi o desespero brotar nos olhos mel acinzentados de Flávia e pude sentir meu coração gelar. Uma luz, foi a ultima coisa que vi depois do olhar de desespero de Flávia. O caminhão nos pegou em cheio, pude sentir o peso dos metais sobre meu frágil corpo e o líquido quente e vermelho saindo de minha cabeça.

Acordei depois de um mês, não sentia meu corpo, minha mente estava confusa. Imagens de sangue, sirenes, pessoas de branco, confusão, Brad, Gabriel, pensamentos sobre meu passado e meu improvável futuro vinham me em formas de ondas todas misturadas...Um sorriso, o mais belo e sincero, uma pessoa, olhos mel acinzentados, uma frase: "Quero aproveitar o resto da minha brisa e beijar muito minha garota..." Uma luz, um caminhão, um olhar de desespero, Flávia!! Quem veio me acolher foi Candice, com seu sorriso meigo e doce:

- Anna, pelo amor de Deus, você acordou! Você está me ouvindo? Você não morreu!

- Carol...não entendo...dói para falar...

- Não amiga, não precisa falar, você acordou - afirmou Candice, entre prantos - eu pensei o pior...

- Carol...Flávia...onde ela está?

- Oh Anna, minha pequena, sinto muito...ela não resistiu...