Capítulo 17

Enquanto Brad e eu subíamos as escadas eu sentia um aperto no coração e adrenalina nas minhas veias. Eu me preocupava com Gabriel e não estava nenhum pouco contente com aquele lugar que ele havia me dito para ir e nem com seu tom desesperado em sua ligação.

- Eu acho que ele está drogado Anna... Olha o jeito que ele está!

Nós estávamos parados diante de um cômodo imundo e Gabriel estava encolhido junto ao canto de uma parede descascada, com a camisa molhada enquanto um vento gelado entrava pela varanda arreganhada; a única luz que iluminava o lugar vinha de um poste de na rua.

- Gabis, fala comigo! O que você está fazendo aqui nesse lugar sozinho?
- Ele está muito quente, Anna! A gente não pode ficar aqui com ele desse jeito!
- Calma, Brad. Nós vamos dar um jeito! Fica calmo.
- A FLÁVIA, ANNA! ELA APARECEU AQUI! - Gabriel disse exaltado e logo em seguida baixou a voz , como se estivesse contando um segredo de estado. - Anna, ela apareceu bem ali... Lançou um olhar fulminante em minha direção, disse que graças a mim agora você e o Brad estão juntos, e ela não é mais feliz!!!! Vocês não podem ficar juntos! Flávia me odeia, Anna! ELA ME ODEIA!
- Calma, Gabis. Com essa febre desse jeito, deve ter tido um delírio... São tantas coisas... Vamos para minha casa, lá faremos alguma coisa...Quem sabe jogo do copo, para acertar as coisas? Agora se acalme! Brad, me ajude aqui!
- Ele precisa ir para o hospital!
- Vamos todos pra MINHA casa!

Dessa vez meu amigo tinha ido longe demais e eu não sabia até onde podia ser conivente com os vícios dele. Se deixasse ele, mais uma vez, fazer o que pretendia, ele acabaria então tirando sua própria vida. Gabriel tinha conseguido destruir minha noite com Brad, quando finalmente pensei que fôssemos nos entender de fato. E o clima naquele lugar era insuportável, um cheiro horrível, eu não me sentia nada bem ali.

- VOCÊS ESTÃO INDO PRA ONDE?
- Para casa!!! - respondi.
- ELES VÃO, VOCÊ AÍ, PODE FICAR! SE ESTIVER MORRENDO EU TERMINO DE MATAR, SEU DESGRAÇADO!
- Olha, meu amigo, vamos com calma. O garoto não está em condições de fazer nada a não ser ir para um hospital! Ele vai acabar tendo uma convulsão se continuar ard...
- HOSPITAL É O CARALHO! ESSE PLAYBOY DE MERDA QUE DANE, MEU AMIGO! E VOCÊ É BOM NÃO SE METER!
- Mas... e se ele morrer com você aqui,eu digo, você vai pra cadeia.
- Escuta aqui, minha lindinha. Não pense que só porque é gostosinha, não, que vai livrar a cara do moleque! Ele só sai daqui quando me pagar tudo o que deve, esse desgraçado! Eu já matei tantos, esse aí não vai nem fazer falta!
- Olha, a gente pode negociar! Porque não nos sentamos e conversamos? - Disse Brad.
- E VOCÊ TA VENDO ALGUM SOFÁ, MEU IRMÃO? Esse filho da puta já vendeu todos os móveis desse muquifo e até hoje não vi a cor do dinheiro que tá faltando! Já disse, ele só sai daqui quando me pagar, esse drogadinho de merda!
- Eu já disse... euuu vooou pagar, preciso me arranjar!
- Quanto ele ta devendo, brother?
- 5 pilas, meu irmão? Vai assumir?
- Como você consegiu esse feito, Gabriel? - perguntei.
- Essa semana mesmo o senhor encomendou 500mg de heroína. Por que não conta pra moça?! -
- Pior que não posso fazer nada, desculpa, não tenho esse dinheiro!
- Eu vi um carro parado lá na porta...Importado, rapaz bem vestido, com uma mina gostosinha, carinha de princesa. No prejuízo é que eu não vou ficar!- A cada minuto eu podia sentir os problemas se agravando. Estava me perguntando o porquê de tudo aquilo, desejando que o telefone não tivesse tocado, que eu tivesse ficado em casa com Brad e que tudo não passasse de um pesadêlo. Eu rezava para acordar e ver Brad ao meu lado me dizendo que não era nada...
- Mas, mas o Gabriel é o único...
- Se você não usa do padê dele, problema seu, meu irmão! Todo mundo pro carro, antes que a situação fique pior.
- Mas, por favor! Amanhã, sem falta a gente te dá esse dinheiro! - eu disse.
- Anda, antes que eu seja obrigado a usar meu brinquedinho! AGORA! TODO MUNDO PRO CARRO!!!

O traficante sacou um revólver da cintura, engatilhou e apontou para a cabeça de Brad, enquanto empurrava Gabriel e eu para o banco de trás. Gabriel no meu colo tremendo e chorando em desespero e eu apenas torcendo para que tudo aquilo acabasse logo.